segunda-feira, 30 de julho de 2012

Quem se cala consciente ou não, consente


Caros amigos, muitos já me ouviram reclamar sobre a atitude ou a falta de atitude das pessoas quando se trata de Cultura (muitas pessoas...) Sabe o que é? Fiquei refletindo sobre esse tema e tive a oportunidade de ver um vídeo sobre a luta de grupos indígenas, contra praticas culturais como o infanticídio, que é defendido por antropólogos sob a alegação de que essa pratica faz parte da cultura tradicional indígena. Se puder assistam, para mim ela veio como um divisor de águas me fez pensar de como é complexa essa questão "Cultural", sou um artista plástico e claro, defensor da arte e da cultura, mas por diversas vezes sou chamado de utopista, e vejo meu argumento abatido como patinho em uma lagoa. Percebo agora que talvez este argumento "Cultura é coisa de segundo plano” já faça parte da pratica Cultural do meio em que vivemos, assim como desvio de verbas públicas, roubos, homicídio, guerras, e tantas outras praticas ruins que nos deparamos em nosso dia a dia. Se cultura é algo em movimento, que muda de geração em geração. Se vivemos sob normas de conduta que não fomos os criadores, mas temos a responsabilidade sobre a manutenção das mesmas não seria obvio nos debruçarmos sobre esse tema? O que é exatamente cultura? O que significa manutenção? O termo manutenção vem do latim (MANUTENTIO, “ato de segurar na mão”, formado por MANUS, “mão”, mais TENERE, “agarrar, segurar”).
Já a etimologia da palavra cultura refere-se ao verbo latino “colere” que significa cultivar e seu significado original está ligado às atividades agrícolas, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”, os gregos tinham já uma palavra para o desenvolvimento humano, que era Paidéia. Paideia significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós (criança é paidós) – daí Pedagogia. Até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados. Posteriormente conhecendo a palavra Paidéia e não querendo usá-la porque era uma palavra estrangeira, passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que significa conjunto de idéias e valores. Bem logo me veio à sensação de estar lutando na guerra certa, mas por motivos e armas erradas. Percebi que não basta estar certo, temos que nos aprofundar em nossas certezas, não se pode mudar um conjunto de regras que rege uma comunidade se a mesma não as quer mudada, porém se torna inevitável a mudança quando seu desejo é expelido por seus praticantes. Sou Dersan Magalhães, artista plástico Auto de data, sou e sempre serei um praticante de arte, apaixonado por seres humanos e pelo modo que nós fazemos as coisas. Busco formas de mudar meu cotidiano, não posso ficar calado diante de matérias como a que assisti domingo no programa Fantástico http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/t/edicoes/v/prefeitos-do-nordeste-fariam-parte-de-esquema-para-promover-eventos-superfaturados/2064213/ em quanto eu e muitos artistas nos desdobramos para conseguirmos um pouco de migalha, sob taxações de sermos utopistas, políticos e dirigentes culturais se apropriam do que é nosso de direito.
Em minha região vejo brigas ferrenhas sobre esse tema (gestão do dinheiro público na cultura) como na maioria de nosso país, somos mal informados ou totalmente desinformados de como, e quanto é destinado para a Cultura. Sou morador de Regente Feijó e como dizem por a qui, não sou filho da terra, mas a escolhi como morada a mais de dez anos e nela tenho tentado plantar minha semente, não reclamo se o solo é duro, pois sei que ainda assim ele é fértil e mesmo com tantas dificuldades será possível colher bons frutos. Não quero com isso atacar este ou aquele dirigente cultural, pois ele (Dirigente cultural) é só mais um integrante de nossa sociedade e por tanto também esta sujeito às normas de conduta criadas por nossos antepassados, e como nós também tem o dever de promover a manutenção cultural.
A cultura é uma prática em movimento que se modifica de tempos em tempos, mas essas mudanças devem sempre vir de dentro para fora expelidas de acordo com a vontade de seus praticantes, só podemos considerar interferência cultural quando estas mudanças ou estagnação são impostas por outros, que se julgam detentores do poder cultural. A melhor forma de se salvaguardar a cultura é preservando o direito á vida de seus praticantes, mais transparência na gestão do dinheiro público destinado a cultura.
O governo federal já vem sinalizando neste sentido há alguns anos por intermédio do Sistema Nacional de Cultura debatido nas conferências municipais, estaduais e federais. vários municípios aderiram ao sistema porém poucos são aqueles que de fato tem tido progresso ou se adequarão as diretrizes deste sistema, já que as mesmas não são obrigatórias mas aconselhável a longo prazo. Não a pressa para estas adequações já que a transparência e a deliberação fazem parte desta nova pratica. Particularmente eu as vejo como uma nova forma de lidarmos com este tema “Cultura” uma soma de capitalismo e comunismo, pois suas regras têm como base a deliberação, com objetivos capitalistas que agreguem valor aos profissionais diretamente envolvidos (artistas).
È fato que toda mudança que sinalize retirada total ou parcial de poder é vista com temeridade por parte dos grupos dominantes (políticos e seus representantes), mas se todos nós cidadãos, que somos regidos por este sistema de regras culturais. Debruçarmos-nos sobre o que de fato estamos patrocinando, é fato que a estagnação, a ignorância sobre a origem e o destino de verbas é a forma mais pratica para destruirmos uma cultura. Em fim se somos responsáveis pela manutenção da cultura somos obrigados a enxergá-la de uma formar mais ampla, bem mais além do nosso umbigo.

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