segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Palavra Cultura

A Origem da Palavra CULTURA

Alfredo Bosi

Fonte: Liter&Art Brasil
Uma definição da cultura hoje em dia se tornou particularmente difícil, porque a cultura pode ser estudada de vários pontos de vista e precisaríamos escolher uma perspectiva para poder defini-la.
Como professor de língua portuguesa e pessoa que sempre se dedicou ao estudo do que se chama de Humanidades, eu gostaria de remontar ao primeiro significado da palavra cultura na tradição romana. A palavra cultura é latina e sua origem é o verbo colo. Colo significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo”; particularmente, “eu cultivo solo”. A primeira acepção de colo estava ligada ao mundo agrário, como foi Roma antes de se transformar naquele império urbano que nós conhecemos. Os romanos começaram efetivamente pela agricultura. A palavra agricultura diz muito: “cultura do campo”.
Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. Era um modo verbal que tinha sempre alguma relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação –ura, que é uma desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras terminadas em –uro e –ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo que vai acontecer. Então a cultura seria, basicamente, o campo que ia ser arado, na perspectiva de quem vai trabalhar a terra.
Esse significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, durou séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados. Nós sabemos a extrema importância da cultura grega, da arte e da filosofia grega para o desenvolvimento da cultura romana. E os gregos tinham já uma palavra para o desenvolvimento humano, que era paideia.
Paideia significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós (criança é paidós) – daí Pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao conhecimento. Dessa raiz é que se criou paideia, que por volta do primeiro século antes de Cristo, o momento forte da helenização de Roma, passou para o Império Romano e carecia de uma tradução em latim. Os romanos sabiam o que era paidéia, pois os seus pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itália; alguns contratados e outros como escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham a função de ensinar grego e retórica para os meninos das famílias patrícias.
Nessa altura, a Grécia também exercia a função de “emprestar” palavras; começava-se a usar palavras gregas freqüentemente entre os romanos. Só que, por outro lado, o nacionalismo romano também exigia que se traduzissem os termos gregos. E qual era o paralelo que eles podiam fazer? Os romanos não tinham nenhum termo que significasse “conjunto de conhecimentos que deveriam ser transmitidos à criança”.
Mas, conhecendo a palavra paideia e não querendo usá-la porque era uma palavra estrangeira, passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que significa conjunto de idéias e valores.
E é tardio isso, só a partir do primeiro século é que se encontram exemplos da palavra nessa acepção; se a gente for aos dicionários de latim compilados depois da época imperial, encontramos cultura sempre definida em primeiro lugar como o amanho do solo, o trabalho sobre o solo, ligado sempre ao verbo colo e seus derivados, por exemplo: in-cola – aquele que mora num certo lugar; inquilino – aquele que mora num lugar que não é seu; colônia – lugar para onde se deslocam trabalhadores que vão arar em outras terras. Culto vem do particípio passado de colo (colo é o verbo, que tem um particípio passado: cultus), é aquilo que já foi trabalhado. Depois, passou a ter um significado espiritual-religioso. Aliás, entre parênteses, nós não sabemos se o significado religioso foi anterior ou posterior ao significado material. Agora, cultura certamente sabemos que passou de um significado material para um significado ideal e intelectual.
Essas observações que estou fazendo, etimológicas, poderão nos servir como um fio em nosso discurso, porque ambos os significados sobreviveram nas línguas modernas. Podemos falar na cultura do arroz, na cultura da soja, na cultura do trigo, entendemos muito bem que é uma terra cultivada; falamos em cultivo (palavra também derivada de colo) e mais ainda, com freqüência, usamos a palavra cultura na acepção ideal, que é muito rica, porque traz dentro de si, na forma verbal terminada em -ura, a idéia de futuro, de projeto.
Se tivéssemos que definir a palavra a partir dessas considerações, teríamos uma riqueza de possibilidades, porque a cultura, pensada como um conjunto de idéias, valores e conhecimentos, traz dentro de si, em primeiro lugar, a dimensão do passado. Muitos conhecimentos foram herdados de outras gerações, não estamos começando do zero, muito pelo contrário, cada ano que passa acumula mais conhecimento. Cada vez mais a dimensão cumulativa, a dimensão de passado, se impõe. É extraordinário como a nossa memória tem que ficar cada vez mais enriquecida, porque o tempo passa e a memória cresce proporcionalmente.
Sem dúvida nenhuma, a primeira idéia que temos quando falamos em cultura é a de transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra, de uma instituição para outra, de um país para outro; subsiste sempre a idéia de algo que já foi estabelecido em um passado – que pode ser um passado próximo ou um passado remoto. Evidentemente, nossa cultura tecnológica tem proximidade com a Revolução Industrial e com tudo o que veio depois, ao passo que a cultura humanística deve remontar aos gregos e aos romanos, há 2.000 ou 3.000 anos atrás. Não importa: seja um passado recente, séculos XIX e XX, seja um passado remoto (antes de Cristo, ou épocas arcaicas), sempre a palavra cultura carrega dentro de si a idéia de transmissão de idéias e valores.
Mas, voltando à etimologia, cada vez mais nos preocupamos com a outra dimensão, que é a dimensão do projeto. Não basta que nós herdemos do passado todas essas riquezas, é preciso que continuemos aprofundando certos veios; se a cultura está sempre “in progress”, ela está sempre em fase de desvios, ela não é algo estabelecido para sempre. Só as culturas em decadência é que fixam, congelam, tal como a cultura bizantina, que, dizem, durante mil anos repetiu as fórmulas do Império Romano do Oriente; ou a cultura chinesa, antes de a China entrar em contato com o mundo ocidental, também codificou formas, comportamentos; a japonesa também.
No mundo contemporâneo, ao contrário, cada vez menos nos atemos à fixidez das fórmulas e cada vez mais (como a cultura é um complexo de conhecimentos científicos, técnicos etc., e não só históricos) nos preocupamos em criar projetos de cultura; e cada vez mais, além desta criação, os nossos ideais democráticos exigem uma socialização do conhecimento. Não só cavar na matéria em si da cultura, mas também estendê-la na linha da comunicação, na linha da socialização; e fazer com que este bem seja repartido, distribuído, da maneira mais justa e mais ampla possível, o que é próprio da sociedade democrática.
Alfredo Bosi nasceu em São Paulo em 23 de agosto de 1936. Professor universitário, crítico e historiador da literatura brasileira. Ocupa a cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras.

sábado, 28 de julho de 2012

Muitos me dizem que cultura é matéria de segundo plano. Não entendo esta afirmativa. Como podemos delegar como segundo plano algo que trata basicamente o jeito que vivemos, que nos comportamos, a arte é tão somente uma pulga cosmica neste tão vasto universo cultural. gritamos por mudanças diversas; religiosas, trabalhistas, politicas, civil e criminal mas todas estas e muitas outra que não sitei, também fazem parte deste universo cultural em que vivemos, não fomos os autores das diretrizes mas somos responsavéis por sua manutenção, se queremos mudanças temos que rever e mudar a forma que tratamos certos temas.

Dersan Magalhães

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"RESUMO OCULTO" DO FILME XINGU 2012.wmv


A cultura é uma prática em, movimento que se modifica de tempos em tempos, mas essas mudanças devem sempre vir de dentro para fora espelidas de acordo com a vontade de seus praticantes, só podemos conciderar interferencia cultural quando estas mudanças são injetadas por outros, que se julgam detentores do poder cultural. "A melhor forma de se salvaguardar a cultura é preservando o direito á vida de seus praticantes." 

Dersan Magalhães.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Lixo (Episódio 1 de 4) - Os desafios da destinação do lixo

Muito se fala sobre o reaproveitamento do lixo produzido pela sociedade, informações e idéias têm aos montes, mas o que de fato tem sido feito? Os atuais administradores públicos têm implantado em diversas instâncias, vários projetos, mas em muitos casos os mesmos não são administrados de forma transparente o que a meu ver afasta a comunidade. Antigamente o conhecimento sobre a destinação do lixo produzido por nós, não ultrapassava a lixeira em frente a nossa casa, creio que nos dias de hoje isso mudou, hoje temos a sensação que sabemos o que está sendo feito, “apenas achamos...”.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

                                        
                                                        Sem palavras...

Aos poetas e compositores anônimos

Salve Nenéu ....

Poeta do silêncio, do anônimo como tantos por ai, autores de poemas maravilhosos e que na maioria das vezes ficam anônimos, autores de obras como “Quero ter você perto de mim” que foi gravada por Roberto Carlos, “Ai meu Pai, Ai Minha Mãe, Ponta  de faca” dentre tantas outras... E a vida segue seu rumo, ilustrada por poetas como ele, que alimentam a carreira de grandes artistas Roberto Carlos, Zezé de Camargo e Luciano, Paulo Sergio e tantos outros, que justamente o pagarão por suas composições, porem para a grande maioria ficou anônimo e eu era um deles. Salve, Salve Nenéu, poeta simples. Obrigado ao Jô soares por me mostrar o quanto somos ignorantes quanto nossos artistas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Confira este vídeo incrível do MSN: Campanha mobiliza artistas para evitar mudanças no Código Florestal

Confira este vídeo incrível do MSN: Campanha mobiliza artistas para evitar mudanças no Código Florestal

Confira este vídeo incrível do MSN: Entenda o novo Código Florestal: Anistia

Confira este vídeo incrível do MSN: Entenda o novo Código Florestal: Anistia

Somos artistas...


Somos artistas...

Sobrevivemos com pouco ou nenhum incentivo, nos contorcemos mês a mês para ultrapassarmos barreiras criadas, muitas vezes por pessoas que deveriam ser os facilitadores. Nossa arte nem sempre é compreendida, não pela ineficiência na forma de nos comunicarmos, mas pela falta de capacidade de alguns políticos, agentes e dirigentes culturais.
O que esperar de pessoas que não sabem diferenciar arte de um artesanato?
Somos forçados a colocar preços para criações que muitas vezes não tem preço que a pague de fato. Quem trata a arte como pedaço de carne não tem o direito de reclamar do artista que se comporta como açougueiro!
Creio que no  trabalho artístico, exposição ou até mesmo uma decoração deva ser  respeitado o processo criativo do artista, levando sempre em consideração à viabilidade de materiais e ferramentas disponibilizada para o mesmo. Um pedreiro até acentará tijolo por um valor ínfimo, mas fica impotente quando o contratante não viabiliza o cimento, a areia e os tijolos. Sim, somos artistas, mas não mágicos, malabaristas ou bufões, nossa arte se materializa de outras formas, como nossos colegas circenses dependemos da sensibilidade do público, mas dependemos ainda das ferramentas para que possamos desperta-la.
Ouve-se dizer que somos um povo privilegiado por nossa extensa área territorial, por nossa fauna, flora e recursos hídricos abundantes, por nossa diversidade cultural, porem deveríamos ser os primeiros á valorizar tais adjetivos.  Será que já não é hora de acabarmos com esta Cultura de desvalorização?
Acostumamo-nos a ouvir termos como; salvaguardar, sustentabilidade, reciclagem estes são tratados como os principais dilemas contemporâneos, quando o mais importante seria debruçarmo-nos para encontrarmos mecanismos que viabilizem a pratica de tais termos. O rio corria ontem, corre hoje e correrá amanhã, mas, será que hoje conseguimos extrair peixes como ontem?
Somos capazes de encontrar os mesmos animais do passado na mesma proporção?
A FAUNA e a FLORA são ricas sim, mas, até quando?
Se seus Regentes não agirem com Prudência a FAUNA morre e a FLORA permanecerá neste declive.
Muitos cientistas apontam como fator desencadeante do caos, a extração descontrolada, e indica a reeducação de costumes. Apesar de lenta, a metodologia ainda é a mais eficaz para esta problemática.
 Assim também é com as artes e seus artistas, fazemos parte desta fauna que caminha rumo á extinção, vitima de uma extração descontrolada.
Não quero com isso generalizar, sei que temos políticos, agentes e dirigentes culturais sensíveis e profundos conhecedores das artes e de seu mecanismo, quem dera estes fossem como a cana de açúcar que encontramos aos montes nos municípios da região, quem dera fosse...
Salve!!! Os Jotas, Paulos, Fabios, Acássios, Osvaldos e mais alguns...

Dersan Magalhães

segunda-feira, 3 de outubro de 2011


Este é nosso trabalho, em Regente Feijó estamos completando três anos de trabalho Uff!! dificil mas esta rendendo frutos...

domingo, 2 de outubro de 2011

A arte não é importante

A arte não é importante

Após uma reunião com amigos, em presidente prudente, onde nos debruçávamos no tema “arte como ferramenta indispensável na manutenção de uma comunidade, me vi obrigado a ouvir um infeliz comentário ”A arte não é importante”.
Bem estava eu em um ônibus me dirigindo a Regente Feijó onde coordeno um projeto de decoração natalina com garrafas Pet`s a três anos, quando fui reconhecido pelo motorista que logo me apresentou para sua cobradora que conversava com outro passageiro.
-Este é um grande artista da nossa cidade, vichi, ele desenha você na hora...
A moça sorriu e disse:
-É mesmo! Eu também desenhava...
Ela voltando-se para outro passageiro completou:
-Eu quando estudava, também desenhava bem, só tirava boas notas em arte, mas agora já não desenho mais... parei.
Eu logo emendei e disse:
-Não deveria ter parado!
O rapaz mostrando-se interessado no assunto completou:
-É mesmo? Que legal! Mas arte não é importante mesmo, eu estou quebrado... Esta semana participei de quatro HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo)
O cidadão se dizia professor e pior, de história!
Aff!! Em minha vã ignorância permito-me perguntar:
O que acontece nesse tal HTPC?
Para ilustrar achei isto, vejamos o relato de duas professoras:
Campos do Serrano, ... de setembro de 1998.
Oi, Emilia,
Como tem passado? Eu vou bem, com saudade das nossas conversas.
O que você achou do Encontro de Educadores? Eu, apesar de não ter ido, já conversei com algumas colegas que participaram e soube que foi muito interessante. Elas contaram muitas novidades, elogiaram bastante as palestras e trouxeram vários textos, dos quais já fiz uma cópia.
Sabe, ultimamente, eu tenho lido bastante, principalmente sobre a HTPC, que tem me interessado muito.
Tenho me preocupado em levar para estas reuniões temas atuais da educação, para que possamos melhorar nossas práticas na escola. Mas tenho apanhado muito, porque orientar um grupo de trabalho não é fácil.
Aqui na escola, temos muitos professores, tanto mais antigos, que conhecem bem os alunos e a escola, como recém chegados, que ainda estão se adaptando - o que traz diversidade para o corpo docente. Além disso, faz pouco tempo que trabalham juntos, as relações ainda são difíceis e eles não tem muitas idéias em comum sobre o que é ensinar, aprender, educar...
Pensando nas características desse grupo - e naquilo que entendo ser importante para a HTPC -, preparei uma reunião para os professores da manhã, levando questões que, para mim, poderiam ajudar o grupo a pensar um pouco sobre sua prática na sala de aula, sobre nossos compromissos e intenções com a educação: O que se ensina hoje na escola? Isso ajuda os alunos a compreenderem o mundo em que vivem?
Para estimular a discussão, escolhi o vídeo e o fascículo 1 do "Raízes e Asas" que recebemos no PEC, porque enfocam a preocupação com o acesso e a permanência dos alunos na escola, apresentando situações e depoimentos de pessoas de várias regiões do país. Achei que este material seria adequado, porque as escolas apresentadas no vídeo oferecem exemplos de práticas que revelam a intenção de formar sujeitos críticos, ativos e participantes. Além disso, a leitura do fascículo daria um suporte mais teórico à discussão do grupo. Como não tínhamos muito tempo, selecionei alguns trechos do vídeo e do texto que se relacionavam diretamente às questões que levantei.
Estas eram as minhas intenções, mas veja o que aconteceu:
Primeiro, assistindo ao vídeo, fiquei surpresa com a reação dos professores. Muitos debocharam do jeito simples de falar das pessoas filmadas; outros, ainda, comentaram que aquilo não tinha nada a ver com a realidade da gente e que o sucesso das atividades mostradas era inventado. Achei melhor não deixar esta reação tomar conta do grupo e tentei chamá-lo para o eixo da discussão, insistindo nas questões e procurando associá-las às falas e situações apresentadas no vídeo. Ao invés disso, algumas professoras relataram atividades que faziam e que consideravam "bem sucedidas", porque envolviam os alunos e tornavam as aulas mais animadas.
De repente, em meio aos relatos, a professora de História (que entrou este ano) começou a dizer que, na 5' série, estava sendo muito difícil tornar as atividades interessantes, porque as crianças não sabiam ficar quietas e eram desrespeitosas. A professora de Matemática não concordou, dizendo que essas crianças aprendiam com rapidez, desde que se soubesse lidar com elas. Essa discussão tomou conta do grupo; todos começaram a falar ao mesmo tempo: "As crianças da 5ª série não param. Como é possível trabalhar com essas crianças?"; "O que é melhor ensinar para as nossas crianças?"; A indisciplina na 5ª série é muito grande: eles se engalfinham, não param quietos nem amarrados. “Desse jeito, não dá para trabalhar”; "Como será que as crianças aprendem hoje?"; "Essas crianças precisam aprender a ouvir e a ter mais respeito pelos os outros" etc.
Sem que eu me desse conta, o tempo da reunião acabou, houve um clima de desentendimento e não conseguimos encerrar a nossa discussão. Fiquei muito desanimada por não conseguir dar conta de tudo que tinha previsto na pauta e, sobretudo, da discussão em torno das questões que procurei levantar.
Fui para casa e comecei a escrever no meu diário tudo o que havia acontecido. Foi bom fazer isto, porque enquanto eu estava escrevendo, rememorando os acontecimentos, fui mudando a minha interpretação sobre o que havia acontecido.
Inicialmente, eu achava que o grupo de professores talvez tivesse resistido à discussão por se sentirem confrontados com as práticas que apareciam no vídeo. Depois, pensando melhor, achei que eu não soube conduzir a reunião: Por que insisti em questões tão amplas, teóricas e abstratas, se os problemas concretos da sala de aula estavam aflorando com tanta força no grupo? Não teria sido melhor começar a discussão a partir das dificuldades enfrentadas por estes professores?
É, Emilia, ainda tenho muito que aprender, você não acha?
Bom, como estou de saída para ir ao supermercado, vou aproveitar e colocar esta carta no correio.
Um beijo e até mais ver,
Clarice
PS.: E se combinássemos um encontro para qualquer dia desses?
Poderíamos convidar algumas pessoas com quem convivemos no PEC e promover um "chá pedagógico". O que você acha?

Paraíso, ... de setembro de 1998.
Querida Clarice,
Pena você não ter podido ir ao Encontro de Educadores. Foi realmente muito bom! Adorei a ideia do "chá pedagógico". Precisamos contatar nossos colegas e agenda-lo. Acho que mais para o fim do ano será mais fácil...
Hoje estou um pouco cansada, pois, além de ter tido um dia muito corrido na escola (fazendo, como sempre, mil coisas), ainda tive que ir a uma reunião do meu condomínio para rediscutir regras de convivência entre os vizinhos. Não é fácil! Isso me faz lembrar do meu trabalho com os professores, na HTPC. Se não estivermos sempre retomando e discutindo as regras e a organização dos trabalhos, as coisas não dão certo. Lendo a sua carta, lembrei como foi difícil construir esse espaço de discussão e formação aqui na escola. Eu não sabia muito bem como deveria organizar esse momento. Ainda tenho muito a aprender, mas acho que estou encontrando um caminho, juntamente com os professores.
Pelo que li na sua carta, parece que você quis propor uma discussão de um tema geral que tivesse relação com as questões da sua escola. Por isso, eu acho que tanto as perguntas ("O que se ensina hoje na escola? Isso ajuda os alunos a compreenderem o mundo em que vivem?") quanto o material selecionado para introduzi-Ias foram muito pertinentes. Eles davam abertura para refletir sobre os problemas que os seus professores estavam apontando, como "O que é melhor ensinar para as nossas crianças?" e "Como será que as crianças aprendem hoje?". Portanto, não concordo que eles tenham se desviado do assunto, mas que o enfocaram de um ângulo que você não havia previsto. Além disso, você não acha que os professores que relataram suas experiências em sala de aula, particularmente as que estavam dando certo, também já não estavam caminhando na direção da questão? Talvez tenha faltado organizar todos os relatos desses professores e relacioná-los às questões teóricas apontadas no material que você usou na reunião, associando-os à prática em sala de aula. É preciso sistematizar o saber dos professores, realizando um percurso que vai da prática à teoria, voltando, então, novamente à prática.
Trecho retirado de “Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC)”.
Bem me permito ainda anexar esta explicação resumida:
“A arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em especial na música, na escultura, na pintura, no cinema, na dança, entre outras”.
Fonte: http://www.brasilescola.com/artes/arte.htm

Vejam grifei em vermelho as palavras que, a meu ver demonstram e contradizem a infame frase “A arte não é importante”. Somos seres pensantes, nosso conhecimento não surge por osmose, logo tudo que produzimos é sim de importância relevante ao desenvolvimento humano. Nós os artistas reclamamos da falha ou da inexistência de editais de fomento a cultura, quando deveríamos mesmo analisar o contexto em que eles surgiram, nem sempre a sociedade entende arte como um movimento indispensável para seu desenvolvimento, ainda hoje nos deparamos com “Arte não serve para nada”. Quero lembrar que aquele texto sobre HTPC é de 1998 e passados doze anos alguns de nossos educadores ainda não estão preparados para responder questões tão complexas como “O que se ensina hoje na escola? isso ajuda os alunos a compreenderem o mundo em que vivem?”
Aos batalhadores da cultura, agentes, coordenadores, diretores e secretários de cultura, que errando na tentativa de acertar não se omitem em o faze-lo muito obrigado! Pois a “Arte é importante sim” e seus executores, mesmo que sem expressão, fazem parte de um processo indispensável para a sociedade.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011