segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Poema - Reflexos de um velho




Reflexos de um velho

Todo Baiano diz ter conhecido Jorge Amado...
Todo pernambucano diz ser aparentado com Brennand ...
De Virgulino Lampião, muitos já se disseram descendente.
Todos temos nosso sincretismo pessoal,
Todos somos capazes de construir imagens dúbias de alguma forma,
Nossa descendência é uma mistura de herói e anti-herói...
Na arte, eu também já fui virgem, fui puro e inocente,
como um primata já bradei minhas descobertas com a mesma algazarra de quem descobria o fogo.
Tolo!
Fui apenas mais um tolo, sonhando em ser maquinista de um trem desgovernado...
Como um tolo virgem, também acreditei que o novo supera o velho sem ao menos me certificar,
de que se tratava realmente do novo apresentando-se diante de mim.
Caminhei lado a lado com o velho, achando nele, uma meninice que nunca existiu.
Assisti o velho engordar na minha frente e por achar que era o novo, alimentei-o ainda mais com meu suor e sangue.
Desejei que o novo não fosse superado e esforcei-me nesta empreitada de fazer meu desejo uma realidade..
Não me reconhecia virgem...
Não me reconhecia tolo...
Nunca usei crachá algum para que eu não fosse rotulado por minha inexperiência, mas o fui mesmo assim.
Não era o novo e sim o velho ramificando-se para sobreviver da minha virgindade.
Como um parasita o velho, alimentava-se do frescor de minha tolice deixando minha inexperiência servir-lhe de anti - corpo.
O parasita, na tentativa de não se desprender de seu hospedeiro, mutila-o, sufoca-o,
mas ao perceber que se mata-lo ele também morreria, afrouxa seus tentáculos para que o hospedeiro refrigere-se e retome as forças parcialmente,
O hospedeiro já não é mais inexperiente, a tempos deixou de ser virgem, já foi calejado e deflorado pelo peso do parasita.
Fraco talvez, mas em sua essência ainda existe um pouco de herói e anti-herói.
 Já não é Jorge Amado, já não é Brennand ,
mas seu lado Virgulino espera o momento certo para romper em disparada rumo ao verdadeiro novo.
Roubar do parasita, o direito de sobreviver disfarçando-se do novo, as custas do suor de sua meninice é inevitável.

Dersan Magalhães

domingo, 22 de setembro de 2013

poema - É tanto pra se fazer...

É tanto pra se fazer...

Tantas coisas me confundem...
É tanto a se fazer em tão pouco tempo
O mundo gira...
Todos rodam ao meu entorno
em velocidade reduzida vejo sua face turva.
Testa serrada de desaprovação...

Imagem Embaçada...
Mente irreconhecível...
Desperta-me medo e insegurança...
Eu permaneço ali...
Estático!

Busco um ponto cardeal que possa
orientar-me a sair deste turbilhão.
É quase fim...
Queria que o fosse...
Melhor ainda se fosse o começo...

Se...
Mas não é...
Não feche a porta ao sair.
Eu não a fecharei...
Pode ser que você volte
em busca de alguma coisa que perdeu.

Pode ser...
E se acontecer, a porta estará apenas encostada,
a lareira apagada e na sala apenas um ar frio
lhe remeterá a outro tempo...
Lembrará que esta sala já foi quente e acolhedora...
Lembrará de tantas coisas que não serei mais eu e
sim você, neste turbilhão...
Estará no meio deste turbilhão...

Talvez nem se importe...
Talvez nem se lembre...
Talvez, eu pensar que o futuro retornará ao presente
cheio de saudades do passado, seja o meu ponto cardeal...
Falso ponto...

Tantas coisas me confundem...
É tanto a se fazer em tão pouco tempo...
O mundo gira...

Dersan Magalhaes