quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Feridas e segredos...



Feridas e segredos...

Todos querem saber o ponto fraco de todo mundo, o calcanhar de Aquiles.
Para os que nos amam, é como se souber de nossa ferida,
Onde é! Como está! Como se saber, a fecha-se, mas ela não fecha...
Para os que nos odeiam é para nos ferir, e não deixá-las cicatrizar nunca...
E todos querem nossas feridas, todos querem nosso calcanhar de Aquiles...
Mas elas são nossas, ela é minha e de mais ninguém...
Nada podem e nem devem fazer...
E que elas se fechem sozinhas, em silêncio,
Para que ninguém as use como arma...
Para meu martírio ou minha morte...
E elas são minhas e nossas e de mais ninguém...
E se o mundo parar, eu não desço!
Fico aqui, quietinho... Lambendo minhas feridas em silêncio.
Sem um motivo certo, sem nenhum por que...
Só pelo prazer de velas fechadas, de me sentir-me imune as estocadas alheias...
O mundo é mal! As pessoas se deliciam com feridas alheias,
Querem romper os tendões de nossos calcanhares
Mas não querem as suas feridas expostas, seus calcanhares rompidos...
Cada qual, com a sua bem escondidinha, em silencio, se lambendo...
A fechar as suas feridas para serem menos expostas às estocadas alheias,
Para ser menos homem e mais maquina.
Pensava que as pessoas que realmente me amavam,
Não usariam as minhas feridas contar mim...

É ai que me enganei! Cutucá-las até me ver agonizar de dor...
Todos nós fazemos isso, uns por maldade,
Outros por que acham que, o que arde cura!
Mas todos nós, fazemos sempre!
Quantas vezes já ouviram de alguém que realmente gosta de você
“vai enfrente seu medo”. Diria que isso é amor equivocado. Isso é uma forma de cutucar sua ferida, pois acham que tudo o que arte cura! Enganam-se...
Mas é sua á ferida, dói em você, nunca nos outros...
Por amor e por bondade eles nos estimulam a cutucá-la, como se depois de sangrá-la bastante, depois de não mais ter sangue pra escorrer, ela cicatriza-se automaticamente.
Mas não! Isto só aumenta a dor, mas eles não a sentem...

Sim somente nós sentimos a dor...

E depois de já terminado o sangue, nós apenas morremos,
Nada de lágrimas, nada de dor, nada de nós...
Sangrar-las nunca foi cura, mas ficar quietinho sim...
Quase parado... Só lambendo-a... Sentindo o gosto do sangue ao eives da dor,
Isso sim as faz cicatrizar-se...
Deixar o sangue se coagular com o tempo, não seria a melhor saída.
Lamber-la, é como se afaga a dor e embalar-lhe pra que ela se acalme e adormeça...
Ninguém quer de fato que a dor morra, é ela que nos mostra que estamos vivos,
E ela, também é o outro lado da moeda...
E como tal temos sempre que nos certificar de que esteja lá, adormecida, mas lá!




E como um masoquistas, nós nos beliscamos... “hei acorde, você esta ai? perguntamos a ferida”. E ela como quem responde, mina uma gotinha de sangue e nos sentimos vivos ainda. Então quando você lambe a sua ferida e tira a casca protetora podemos até pensar:
Não é mais fácil deixar esse sangue seca e virar outra casca e que com o tempo ela caia sozinha?

Não! Pois nesta casca que aparentemente a protegia é que se escondem as bactérias...
Que causam as infecções, que nos deixariam febris... Que nos destruiriam lentamente...
Lamber-las limpa! Você já viu algum animal raspando, esfregando as próprias feridas ou as dos outros? Mas é comum vermos um animal lambendo-se.
Lamber ferida é sábio, é sabido pelos animais ditos irracionais que cura mesmo!
Não é o poder da saliva em si, mas o poder de digerir seu próprio sofrimento, de se reconstruir a partir de suas feridas.
A prendamo-nos com eles, somos racionais, mas eles é que são os sábios.

Dersan Magalhães




Um comentário:

Pâmela Oliveira disse...

" Dizem que o TEMPO é santo remédio, com ele tudo passa, tudo muda, e tudo cura, afinal que milagre será esse, que ele o traz? São raras as vezes que encontramos pessoas que agem como os animais, que lembem nossas feridas, se usa-las contras nos mesmo, ainda sim acredito que elas podem existir.